Câncer Ocupacional



Informações gerais

Vários fatores estão envolvidos na origem do câncer humano, sendo que atualmente o fenômeno de cancerização é visto como resultante de uma série de eventos sobre o longo período da vida do indivíduo. De acordo com estimativas e estudos de instituições norte-americanas (NCI-NIEHS-NIOSH), a proporção de câncer devido à ocupação pode variar de 20 a 25% do total da mortalidade por câncer. Essa proporção vai depender também do efeito interativo com vários outros agentes cancerígenos como o tabagismo, álcool, drogas, dieta e poluição ambiental.

Em todas as regiões brasileiras, os cânceres são a segunda causa de morte por doença, ficando atrás, apenas, das doenças do aparelho circulatório. No Brasil, em 2000, o câncer foi responsável por 12,7% dos 946.392 óbitos registrados, sendo que 54% dos óbitos por câncer ocorreram entre os homens e 46%, entre as mulheres.

A formação do câncer (carcinogênese) é um processo altamente complexo do qual participam fatores de risco herdados e fatores de risco ambientais, tais como a alimentação, o hábito de fumar, a ocupação, e a exposição a radiação e a agentes químicos.

A identificação das substâncias químicas potencialmente carcinogênicas é realizada pela toxicologia experimental, o que torna possível medidas regulatórias objetivando reduzir a exposição humana a elas. Estima-se que existam cerca de seis milhões de substâncias químicas, das quais cerca de 50.000 de uso industrial. Atualmente, considera-se que inúmeras substâncias químicas e certos agentes físicos (radiações) têm potencial cancerígeno para o homem. Contudo, o estabelecimento do nexo entre o câncer e ocupação é dificultado pelo seu longo período de latência (período de tempo entre o início da exposição a um cancerígeno e a detecção clínica), que pode variar de 5 a 50 anos.

Os cânceres induzidos ocupacionalmente não são diferentes em tipo e natureza daqueles decorrentes de fatores não ocupacionais. Os estudos epidemiológicos têm sido as fontes mais definitivas de informação sobre o câncer ocupacional, que atinge principalmente o pulmão, a pele, bexiga e medula óssea. Mais recentemente, estudos tem apontado sua ocorrência também no trato gastrintestinal, sistema nervoso central e ossos. Outro aspecto importante que deve ser considerado são as repercussões para as gerações futuras em termos de malformações ao nascer e cânceres na infância entre os filhos dos trabalhadores expostos a agentes cancerígenos.

A prevenção do câncer implica ações de saúde pública destinadas a reduzir ou eliminar os fatores de risco para a doença. Estas ações voltam-se primariamente para os fatores de risco que são considerados, em princípio, evitáveis, ou seja, aqueles que são extrínsecos ao indivíduo e são, por isso, denominados também de fatores ambientais. Esses fatores ambientais compreendem todas as influências externas que se fazem sentir sobre o indivíduo, como a condição social, a ocupação, os hábitos alimentares, o estilo de vida, a exposição a agentes físicos e químicos

O diagnóstico precoce é a chave para o tratamento de qualquer tipo de câncer, e também para o câncer de origem ocupacional.

CÂNCER DE PULMÃO

O câncer de pulmão é a primeira causa de morte por câncer nos homens brasileiros de todas as idades, sendo mais comum em áreas urbanas e industrializadas (regiões sudeste e sul do país). Segundo estimativas do INCA-Instituto Nacional do Câncer, o câncer de pulmão deverá atingir 22.085 pessoas (15.165 homens e 6.920 mulheres) e causar 16.230 mortes em 2003.

Fatores de risco

O tabagismo é o principal fator de risco do câncer pulmonar, sendo responsável por 90% dos casos. Vários agentes ambientais e ocupacionais são hoje reconhecidos como cancerígenos para o pulmão, destacando-se entre eles:

Radiações ionizantes – minas de urânio e outras minas, laboratórios, ambulatórios, hospitais, na agricultura e na indústria;

Arsênico – minas e fundições de arsênico, fundições de cobre, zinco e chumbo, produção de pesticidas, curtumes, produção de pigmentos de tintas, nas indústrias eletrônicas, farmacêutica e metalúrgica;

Asbesto (amianto) – minas de asbesto, construção civil, estaleiros, manufaturas de fibrocimento (telhas, caixas d’água, tubulações, pisos), fabricação e uso de material de fricção (lonas, pastilhas de freio e discos de embreagem) e de isolamento térmico (refratários) e, nas indústrias têxteis;

Berílio – indústria eletrônica e aeroespacial e, na fabricação de reatores nucleares;

Cromo – galvanoplastias (cromação), curtumes, manufaturas de cromatos e pigmentos e, na fabricação de aço inoxidável;

Ferro – minas de ferro, aciarias, fundições e soldagens;

Níquel – refinarias de níquel, galvanoplastias, fabricação de aço inoxidável, catalisadores e pigmentos e, nas indústrias petroquímica e da borracha;

Clorometil éteres – laboratórios químicos, anestésicos e manufaturas de resinas de trocas iônicas;

Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos – coquerias (siderurgia), e trabalhadores expostos a asfalto, piche, alcatrão, ceras de parafinas e óleos lubrificantes;

Outros agentes – gás mostarda, acrilonitrila, cloreto de vinila, cádmio e a sílica;

Processos de trabalho – trabalhadores do setor da borracha (especialmente nas indústrias de pneus), das indústrias de pigmentos e das refinarias de cobre.

Sintomas

Os tumores localizados na região central do pulmão provocam sintomas como tosse, sibilos, estridor (ronco), dor no tórax, escarros hemópticos (escarro com raias de sangue), dispnéia (falta de ar) e pneumonite (brônquio). Já, os tumores pulmonares de localização periférica são geralmente assintomáticos. No entanto, quando eles invadem a pleura ou a parede torácica, causam dor, tosse e dispnéia do tipo restritivo pela pouca expansibilidade pulmonar.

Diagnóstico

A maneira mais fácil de se diagnosticar o câncer de pulmão é através de um raio X torácico complementado por uma tomografia computadorizada. A broncoscopia (endoscopia respiratória) deve ser realizada para avaliar a árvore traqueobrônquica e eventualmente permitir a biópsia. É fundamental obter um diagnóstico preciso, seja pela citologia ou patologia. Uma vez obtida a certeza da doença realiza-se o estadiamento, que consiste em saber o estágio de evolução, ou seja, se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada por outros órgãos.

Prevenção

A mais importante e eficaz prevenção do câncer de pulmão é a primária, ou seja, o combate ao tabagismo e a eliminação, nos locais de trabalho, dos agentes ambientais reconhecidos como cancerígenos para o pulmão.

CÂNCER DE PELE
O câncer de pele é o mais freqüente de todos os tipos de câncer que acometem o ser humano, sendo que este tipo de câncer é o mais comum entre os brasileiros de ambos os sexos. Estatísticas norte-americanas mostram cerca de 1 milhão de casos-novos anualmente de todos os tipos de câncer de pele, sendo 40.000 casos de melanoma cutâneo, o tipo mais sério de câncer de pele.

O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento do câncer de pele. Em geral, são lesões de fácil diagnóstico e, quando operadas precocemente, possuem índices de cura acima de 95%. Por ser um câncer que compromete inicialmente a pele, o diagnóstico precoce pode ser feito na maioria dos casos apenas com exame físico, dispensando a necessidade de exames sofisticados.

São sinais característicos do câncer de pele:

Lesão em forma de nódulo, de coloração rósea, avermelhada ou escura, de crescimento lento, porém progressivo;

Qualquer pinta na pele de crescimento progressivo, que apresente prurido (coceira), sangramento freqüente, ou mudança nas suas características (coloração, tamanho, consistência, etc.);

Qualquer ferida que não cicatrize espontaneamente em 4 semanas;

Qualquer mancha de nascimento que mude de cor, espessura, ou tamanho.

Tipos de câncer de pele

Três tipos básicos se destacam pois são responsáveis por mais de 95% de todos os casos de câncer de pele. São eles:

Carcinoma basocelular: é o tipo mais comum de câncer de pele, correspondendo a cerca de 80% de todos os casos deste tipo de câncer. Caracteriza-se por um nódulo (caroço) róseo, endurecido, de crescimento lento, porém progressivo; este nódulo, com o seu crescimento, pode apresentar uma úlcera (ferida). Pode se apresentar também como uma ferida que não cicatriza, ou ainda uma mancha que cresce continuamente. É o mais benigno dentre os cânceres de pele, tem baixo risco de originar metástases e sua malignidade é local, ou seja, invade e destrói tecidos adjacentes. Acomete principalmente adultos com mais de 40 anos e geralmente ocorre nos 2/3 superiores da face (nariz ,testa, pálpebras, bochecha), sendo menos comum em outras regiões do corpo.

Carcinoma espinocelular: é o segundo tipo mais freqüente de câncer de pele e tem um caráter mais invasor podendo causar metástases com maior freqüência. Pode acometer pele normal mas geralmente tem origem em lesões preexistentes como queratoses solares, leucoplasias (manchas brancas), cicatrizes de queimaduras e úlceras. É caracterizado por um nódulo (caroço) de crescimento progressivo, que freqüentemente apresenta uma úlcera (ferida) na sua superfície. Caracteriza-se também por uma mancha de crescimento progressivo. As localizações mais comuns são lábio inferior, orelhas, face, dorsos das mãos, mucosa bucal e genitália externa. Pode se disseminar através dos linfonodos (gânglios), ou até espalhar pelo corpo (metástase), sendo que por este motivo seu diagnóstico e tratamento deve ser precoce. Acomete, principalmente, adultos com mais de 50 anos, sendo fatores predisponentes o tabagismo, alterações da imunidade e exposição a arsênico, alcatrão e hidrocarbonetos tópicos.

Melanoma cutâneo: É o mais maligno dentre os cânceres de pele, geralmente ocorrendo em adultos entre 30 e 60 anos, sendo mais freqüente no sexo feminino e pessoas da raça branca. Entre os 3 tipos de cânceres de pele mais comuns este é o menos freqüente, porém é aquele que apresenta as conseqüências mais devastadoras. Caracterizado por uma pinta de crescimento progressivo, que tenha mudado alguma de suas características de modo repentino ou no decorrer de um período (como cor, tamanho, aspecto, etc.). As lesões podem ocorrer em qualquer parte do corpo sendo que a maioria delas inicia-se na pele (os principais locais são: cabeça, pescoço e tronco) e o restante em outros locais (olhos, sistema respiratório, sistema digestivo, uretra e vagina). É o tipo de câncer de pele mais perigoso pois possui grande chance de se espalhar pelo corpo rapidamente, porém, quando diagnosticado precocemente e corretamente tratado, pode apresentar índices de cura acima dos 90%.

Como se caracteriza o melanoma?

O melanoma pode se apresentar de diversas formas, devendo-se suspeitar de sua ocorrência quando se encontram lesões com alguma dessas características:

Aumento do tamanho e da pigmentação, ulceração, sangramento, superfície rugosa, formação de crosta e aparecimento de outras lesões ao redor de um nevo (pinta);

Aparecimento de pontos pigmentados que crescem, tornam-se elevados, de cor castanha a negra e que evoluem com ulceração, sangramento e formação de crosta em locais da pele anteriormente íntegros;

Presença de pontos enegrecidos em lesões preexistentes que não apresentavam tal característica anteriormente;

Lesão levemente elevada, cujas margens são irregulares e a coloração varia desde acastanhada a negra com áreas azuladas, esbranquiçadas, acinzentadas e até vermelhas. Em alguns casos a pigmentação pode ser discreta ou ausente;

Lesão elevada, negro-azulada ou com rajados castanhos;

Lesão na região da palma das mãos, planta dos pés, pontas dos dedos (embaixo ou ao redor das unhas).

Causas primárias do câncer de pele ocupacional

Radiação ultravioleta – exposição à radiação solar (pescadores e agricultores) e na indústria;

Radiação ionizante – operadores de equipamentos de raio X, mineiros de urânio;

Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos – coquerias (siderurgia), e trabalhos expostos a asfalto, piche, alcatrão, ceras de parafinas e óleos lubrificantes;

Arsênico – minas e fundições de arsênico, fundições de cobre, zinco e chumbo, produção de pesticidas, curtumes, produção de pigmentos de tintas e, nas indústrias eletrônicas, farmacêutica e metalúrgica;

Óleos minerais ou xistosos.

CÂNCERES DIVERSOS
Câncer da Bexiga

No Brasil, a incidência de câncer de bexiga nos homens é a quarta e nas mulheres o nono câncer mais freqüente, sendo que a sua incidência é maior nas regiões industrializadas. É três vezes mais freqüente em homens do que em mulheres. Sua incidência aumenta com a idade, geralmente ocorre após os 60 anos e é raro antes dos 40 anos. O câncer de bexiga ocupacional em geral está relacionado com a exposição ao asbesto e às aminas aromáticas (benzidina, 4-aminobifenila e 2-naftalamina) nas refinarias de petróleo, nas indústrias químicas, de tintas, de pigmentos, de couro, de borracha, metalúrgica, entre mecânicos e sapateiros e na manipulação de anilina. Sangue na urina ou mudanças no hábito urinário podem ser sinais de câncer da bexiga. A sobrevida média para o câncer de bexiga é considerada muito boa. Quando o diagnóstico é realizado precocemente, a sobrevida media de 5 anos é de 94%.

Câncer de Fígado

Geralmente do tipo angiossarcoma, por exposição ao dióxido de tório, ao cloreto de vinila nas indústrias de plástico, ao arsênico e aos esteróides anabolizantes. Entre os riscos biológicos, a infecção pelo vírus da hepatite B ou C é considerada um fator de risco muito importante para o câncer de fígado.

Câncer de Fossas Nasais

Em decorrência de exposição a poeiras de madeiras diversas (em serrarias, marcenarias e carpintarias), de couros, de têxteis, de farinha de trigo, de cola, de cromo, de níquel, de rádio, gás mostarda, formaldeído, álcool isopropílico e solventes utilizados na fabricação de móveis e de calçados.

Câncer no Cérebro

O câncer de cérebro em adultos é mais freqüente entre 40 a 70 anos de idade e, em geral, a causa é desconhecida. Estudos recentes tem apontado que o risco de desenvolver câncer no cérebro é 10 a 20% maior em trabalhadores classificados na categoria “ocupações elétricas”, tais como eletricistas e operadores de usina de força. Geralmente, o câncer é do tipo glioma, por exposição contínua a campos eletromagnéticos. Nos últimos tempos, estudos vem sendo desenvolvidos com o objetivo de investigar a relação entre o câncer no cérebro e o uso de telefone celular. Além disso, diversas investigações tem apontado uma maior incidência de tumores cerebrais entre trabalhadores de certas indústrias (refino do petróleo, borracha, medicamentos) e em trabalhadores rurais expostos à agrotóxicos.

Leucemias

Leucemia é uma forma de câncer que afeta o sistema formador de sangue do corpo, incluindo o sistema linfático e a medula óssea. No Brasil, a leucemia representa numericamente cerca de 3% de todos os tipos de câncer, sendo uma das poucos cânceres que atingem não só adultos e idosos mas também menores de 14 anos.

Dois principais fatores têm sido considerados como indutores de leucemias:

radiação ionizante – operadores de equipamentos de raio X, mineiros de urânio e trabalhadores de usinas nucleares,

benzeno – refinarias de petróleo, siderúrgicas e nas indústrias químicas, de borracha e de tintas e vernizes.

Além desses fatores, também as radiações não ionizantes e outras substâncias químicas são tidas, ultima.

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