Sílica e Silicose







Definição

A silicose é uma doença respiratória causada pela inalação de poeira de sílica que produz inflamação seguida de cicatrização do tecido do pulmão. É uma das mais antigas doenças provocadas pelo trabalho, sendo que atualmente, no Brasil, é a principal doença pulmonar de origem ocupacional (pneumoconiose).

Fatores de risco

A silicose decorre da exposição à sílica livre (quartzo), especialmente na mineração subterrânea de ouro, nas indústrias extrativas de minerais, no beneficiamento de minerais (corte de pedras, britagem, moagem, lapidação), nas indústrias de transformação (cerâmicas, marmoarias, abrasivos, fundições), na fabricação do vidro e de sabões, na construção civil e, em algumas atividades como protéticos, jateadores de areia, trabalhos com rebolos ou esmeril de pedra, escavação de túneis, cavadores de poços e artistas plásticos.

O número estimado de trabalhadores brasileiros potencialmente expostos a poeiras contendo sílica é superior a 6 milhões (cerca de 4 milhões na construção civil, 500.000 em mineração e garimpo e mais de 2 milhões em indústrias de transformação de minerais, metalurgia, indústria química, de borracha, cerâmicas e vidros).

Diagnóstico

O diagnóstico da silicose, apesar do avanço tecnológico, ainda depende basicamente da história ocupacional e da interpretação da radiografia simples de tórax. O Rx de tórax caracteriza-se pela presença de pequenas opacidades nodulares que iniciam-se mais comumente nos campos superiores do pulmão, estendendo-se depois para os campos médios e inferiores.

Os testes de função pulmonar têm utilidade complementar no estudo epidemiológico de trabalhadores expostos à poeiras ou, individualmente, no seguimento e/ou avaliação da presença de alterações iniciais e do grau de incapacidade respiratória. Contudo, no caso da silicose, na maioria das vezes, a espirometria revela-se dentro dos limites da normalidade.

Notificação da silicose

Sendo constatada a ocorrência ou agravamento de silicose ou sendo verificadas alterações que revelem qualquer tipo de disfunção do aparelho respiratório em trabalhadores expostos à poeira de sílica, mesmo sem sintomatologia, a empresa deve comunicar essa ocorrência à Previdência Social através da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT.

Sintomas

As partículas de sílica com diâmetro inferior a 10 micrômeros atingem o interior dos pulmões e conseguem ultrapassar as paredes dos seus alvéolos. Como são estranhos no organismo, essas partículas provocam uma reação dos tecidos, de caráter inicialmente inflamatório e que posteriormente se cicatrizam. Com a persistência da exposição, a repetição desse processo acaba provocando o endurecimento do tecido pulmonar (nódulo) que vai perdendo a sua elasticidade.

Falta de ar (dispnéia) aos esforços;

Tosse crônica com expectoração;

Sintomas associados como febre e perda de peso.

Formas clínicas

Silicose crônica: é a forma mais comum, é uma doença de longo período de latência até o aparecimento das alterações radiológicas (em média após 10 anos do início da exposição), e não causa sintomas clínicos, a não ser em fases mais avançadas

Silicose subaguda: ocorre, em geral, entre os cavadores de poços e mineiros de ouro de subsolo, e apresenta alterações radiológicas mais precoces (após 5 anos de exposição), sendo que os sintomas respiratórios costumam ser precoces e limitantes.

Silicose aguda: é uma forma rara e está associada à exposições maciças à sílica livre como no jateamento de areia ou na moagem de pedra, resultando um quadro clínico grave e limitante.

Tratamento

Não existe um tratamento específico para a silicose, mas é muito importante afastar o trabalhador da fonte de exposição à sílica para evitar o seu agravamento. O tratamento de apoio compreende medicamentos supressores da tosse, broncodilatadores e oxigênio. No caso de infecções respiratórias associadas, pode ser necessário a utilização de antibióticos.

Outras considerações para o tratamento compreendem restringir a contínua exposição à substâncias irritantes, deixar de fumar e providenciar a realização de exames para detectar tuberculose, já que os trabalhadores com silicose apresentam um alto risco de desenvolver essa doença. A questão da associação entre exposição à sílica e/ou silicose e câncer de pulmão é ainda polêmica. Os grupos de apoio com outros trabalhadores que sofrem de silicose podem ajudar na compreensão da doença e na adaptação ao seu tratamento.

Prevenção

No controle das doenças ocupacionais, provocadas pela inalação de ar contaminado com poeiras, o objetivo principal deve ser minimizar até eliminar a contaminação do local de trabalho, através da adoção de medidas de proteção coletiva. Quando as medidas de proteção coletiva não são viáveis, ou enquanto estão sendo implantadas ou avaliadas, devem ser usadas medidas de proteção individual: os protetores respiratórios (respiradores).

Medidas de proteção coletiva

Umidificação do ambiente com lavagem constante do piso;

Exaustão localizada;

Ventilação local ou geral;

Enclausuramento total ou parcial do processo produtor de poeiras;

Mudanças de “lay out” da empresa;

Substituição de matérias primas patogênicas por outras menos tóxicas e,

Alterações do processo produtivo, entre outras.

Protetores respiratórios (respiradores)

As orientações e recomendações sobre seleção e uso de respiradores estão contidas na Instrução Normativa Nº 1, de 11/04/94. Os protetores respiratórios podem ser classificados em dois tipos básicos:

Aparelhos purificadores (máscara a filtro): estrutura facial dotada de um ou mais filtros específicos para poeiras ou substâncias químicas, e

Aparelhos de isolamento: usados em ambientes pobres em oxigênio (teor menor que 18% de volume) ou em ambientes contaminados a altas concentrações. Podem ser autônomos (cilindros de ar ou oxigênio) ou de adução de ar (bomba manual ou motorizada).

Monitoramento da exposição ambiental

Para o monitoramento da exposição dos trabalhadores e das medidas de controle, deve ser realizada uma avaliação sistemática e repetitiva da exposição à poeira de sílica. Essa avaliação ambiental consiste na aspiração de um volume de ar conhecido nos locais de trabalho, através do sistema de bomba de vácuo, sendo que esse ar é filtrado para análise quantitativa do material particulado retido. A todas e quaisquer atividades nas quais os trabalhadores estão expostos à sílica aplicam-se as recomendações do Anexo Nº 12 da NR-15 da Portaria 3214/78.

Controle médico dos trabalhadores expostos

Do ponto de vista da legislação trabalhista, segundo a NR-7 da Portaria Nº 3214/78, a sílica é classificada como uma poeira fibrogênica, isto é, que provoca fibrose nos pulmões. Com base nessa classificação, os exames de rotina para monitoramento de trabalhadores expostos devem incluir obrigatoriamente:

Radiografia de tórax: deve ser realizada na admissão e posteriormente a cada ano;

Espirometria: deve ser realizada no exame admissional e posteriormente a cada dois anos.

Sílica e câncer

Em 1996 a IARC – International Agency for Research on Câncer classificou a sílica como grupo I, ou seja, substância descrita como carcinogênica para humanos. A questão da associação entre exposição à sílica e/ou silicose e câncer de pulmão é ainda muito polêmica.

Links relacionados

* Textos Online
* NIOSH Review
* Sílica e silicose

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